Game over’, Paraíba!

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Rubens Nóbrega

Paulistanos e visitantes ficaram encantados na noite de segunda-feira última (25) com uma exposição de arte digital que fez da parede de um prédio (da Fiesp, se não me engano) na Avenida Paulista uma tela gigantesca de videogame.

No dia seguinte, foi a vez de o encantamento se estender a todo o país através de matéria especial veiculada nos principais telejornais da Rede Globo, mostrando pessoas de todas as idades jogando games dos anos 70 e 80.

Para jogar, o jogador tinha que se postar do outro lado da avenida e comandar os bonequinhos ‘come-come’ a partir de um tablete, sucessor do velho joystick de guerra.

“Mas o tema da exposição é contemporâneo. Fala dos conflitos vividos hoje na cidade de São Paulo”, destaca a repórter Renata Ribeiro, de São Paulo, acrescentando que se trata de um programa batizado de Lumoblocks, inspirado no jogo Tetris.

Por esse programa, que a jornalista diz ser uma ‘intervenção’, o jogador também pode usar o seu corpo como peça do jogo, o que seria “uma forma de refletir sobre a relação do cidadão com os espaços urbanos”.

Essa reflexão é estimulada, sobretudo, quando o Lumablocks faz uma releitura do jogo Space Invaders e, em vez de alienígenas, mostra bicicletas “que lutam para sobreviver no trânsito”.

Quem não assistiu à reportagem pode acessá-la na Internet através do link http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2013/03/exposicao-de-arte-digital-cria-videogame-em-avenida-de-sao-paulo.html.
Quando abrir a matéria, o leitor vai ver que um dos entrevistados pela repórter atende pelo nome de Francisco de Paula Barreto Filho, segundo os caracteres que aparecem na parte inferior da tela sobre a legenda que diz ser aquele rapaz “doutorando em artes e tecnologia da UnB (Universidade de Brasília)”.

A tevê não mostrou, contudo, ou pelo menos não ouvi nem li, que o Francisco em questão é paraibano da gema e o criador do Lumablocks que naquela noite fez da Pauliceia desvairada uma Pauliceia deslumbrada.

Faltou dizer ainda que o doutorando Francisco já expôs sua criação na Grécia e está se preparando para viajar aos Estados Unidos, onde apenas deverá exibir o seu Lumablocks como tentará ingresso em outro doutorado.

Essa outra pós ele quer fazer no mundialmente respeitado e concorridíssimo MIT, sigla em inglês que identifica o Instituto de Tecnologia de Massachussetts, uma escola onde os alunos medianos têm QI de gênio pra cima.

Tem chance, o menino. Afinal, passou em primeiro lugar na seleção do Doutorado em Artes e  Tecnologia da UnB, igualmente disputadíssimo por brasileiros e estrangeiros estudiosos e pesquisadores do fantástico mundo das avançadas tecnologias comunicacionais e interativas.

Não dá pra dizer tudo numa matéria de televisão, lógico. Mas pra quem é paraibano e gosta de reconhecer os talentos da Pequenina, a exemplo de Quico (como os familiares o chamam), ficou um gosto de quero mais nas informações transmitidas ao distinto público.

Nesse mais a gente poderia dizer, também, que o doutorando Francisco da UnB é filho dos Professores da UFPB Francisco de Paula Barreto e Emília Barbosa, ele do Curso de Direito, ela de Comunicação Social.

Ah, e o Francisco pai é o mesmo Chico Barreto que quando estudante de Direito fugiu para o exterior e se exilou na França durante a ditadura e de lá só voltou com a anistia e a redemocratização.

Voltou para reconstruir a vida e a carreira, terminando por reingressar na UFPB como Professor, para ser depois, também, secretário de Estado, vereador, secretário da Prefeitura da Capital e até candidato a prefeito de João Pessoa em 2008.

Naquele ano, Barreto concorreu em condições extremamente desiguais diante do então favoritíssimo candidato à reeleição Ricardo Coutinho, de quem o Professor fora secretário da Administração e de Articulação Política no primeiro mandato (2005-2008) do atual governador como prefeito.

Rompido com Ricardo, na campanha Barreto tornou-se um crítico contundente da gestão a qual servira e da qual dissentira. Por essa e outras, durante um debate na televisão entre candidatos a prefeito sofreu ao vivo e em cores um duríssimo golpe de deslealdade intelectual de adversário.

No tal debate, Ricardo acusou Barreto de ter se aproveitado do cargo de secretário para dar emprego a um filho. Na acusação, o então alcaide deixou a entender que o garoto seria medíocre e teria se mostrado incompetente no serviço para o qual fora contratado, na área de informática da Prefeitura.

O filho de Barreto que entrou no debate e para a história é justamente o Francisco filho que o Brasil inteiro conheceu esta semana, graças à exposição de arte digital promovida em São Paulo e divulgada pela Globo. Na época, ao rebater Ricardo, Barreto esclareceu que filho na verdade fora contratado por Luciano Agra, então secretário de Planejamento da Prefeitura da Capital.

Mas a explicação não esvaiu a mágoa daquilo que o Professor recebeu como infâmia. Tanto que sugeriu ao filho pedir imediatamente demissão e ir embora da Paraíba “sem olhar pra trás”. O menino foi, talvez sem se dar conta de que a Paraíba do novo milênio de certa forma lhe forçou um exílio semelhante àquele que a truculência fardada dos anos 60 impôs a seu pai.

Francisco filho foi sem também dimensionar, talvez, o quanto a mesquinharia política dominante na Paraíba do novo milênio é capaz de eleger mediocridades para nos governar enquanto expulsa talentos e inteligências que poderiam fazer do nosso Estado uma terra mais justa, mais tranquila e, seguramente, mais próspera e mais feliz.